Fui salvo graças ao meu vicio no twitter
Minha mãe era muito simples e também muito ignorante. Uma vez ela chegou em casa e me pegou escutando Cat Stevens. Eu apanhei muito porque estava escutando “musica do mundo”.
Éramos 6 irmãos, 3 do mesmo pai e mãe e 3 de outros casamentos. Todos ao seu tempo se distanciaram daquele caco de familia, quem se manteve firme em oração (e sozinha tambem – hoje eu tenho dor de lembrar disso) foi a minha mãe.
“Deveria ter morrido”
Pouco antes de completar 17 fui fazer cursinho em Ribeirão Preto, não suportava a minha casa. Minha mãe era pra mim uma crente fanática e meu pai um ser humano que pelo remorso que sentia se alternava em fases de suposta piedade com outras de completa perversão. De la passei no vestibular e fui cursar medicina na extinta Universidade Gama Filho na cidade do Rio de Janeiro.
Foram varias as vezes em que eu “deveria ter morrido” . Meu Pai, o senhor ja cuidava de mim desde cedo sem eu perceber.
No inicio da facul me envolvi com gente da pesada. Um dia dirigi sozinho até o Pronto Socorro do Lourenço Jorge depois de ter me drogado a noite toda. Escondi todos os meus documentos pra não ser identificado se morresse. No dia seguinte decidi largar a faculdade e voltar pra Goias. Seis meses trancado. Voltei pra faculdade namorando uma garota de Goiânia e já nas férias seguintes eu a engravidei. Nos próximos meses larguei pela segunda vez o meu curso, casei, me separei e depois de uma longa história eu acabei voltando a estudar, dessa vez até me formar.
No último semestre da faculdade meu pai descobriu um câncer de próstata. Ele estava morando no interior de Goiás, tinha se separado da minha mãe. Era a desculpa que eu precisava pra não fazer minha especialização. Fui cuidar dele assim que me formei. Meu pai já era idoso e tinha vontade de voltar pro nordeste depois de velho. Ele também era médico, era Ginecologista, foi com ele que aprendi a operar e anestesiar.
Fomos pra João Pessoa e iniciei o que seria uma sucessão de derrotas inacreditáveis na minha vida. Ficamos só um mês em João Pessoa e como era péssimo de trabalho fomos pra Recife em seguida. Lá minha mãe voltou a morar com meu pai e foi a desculpa que eu precisava pra cair no mundo. Depois disso, nos próximos 11 anos da minha vida, eu morei em 7 estados e 18 cidades diferentes.
Eu arrumava emprego fácil. Uma vez, no interior de Pernambuco, divisa com a Bahia , parei pra abastecer o carro na rodovia e perguntei pro frentista se estavam precisando de médico na cidade. Morei 1 ano nesse local e acabei me casando pela segunda vez. De la fui pra Saquarema no Rio, tinha o sonho de morar na praia e consegui um local pertinho do mar. Nas raras folgas que tinha eu dormia ao som das ondas quebrando na praia. Como eu gostava daquele lugar.
Meu pai acabou se separando da minha mãe novamente e foi me encontrar em Saquarema. Era um local ruim de trabalho pra ele e resolvemos voltar pra Goiás. Lá eu me separei mais uma vez e moramos juntos ate eu conhecer quem quase seria a minha terceira esposa.
Os piores 7 anos da minha vida!
Foram os 7 piores anos da minha vida. Morando em Jataí-GO eu tive certeza por um tempo que ficaria rico construindo um hospital (a mulher que vivia comigo também era medica) e foi aí que eu comecei a cavar fundo, bem fundo. Aguardando um financiamento do BNDES (época da Dilma) eu fiz um empréstimo milionário dando em garantia a fazenda da minha então companheira. O empréstimo não saiu e mudamos da cidade endividados até o pescoço, com a fazenda hipotecada pra um agiota e sem trabalho.
Nos anos seguintes, pulando de cidade em cidade, eu fui afundando até chegar no meu fundo do poço moral e financeiro. Nada do que eu fazia dava certo. Em cada local algo extraordinário acontecia e nós tínhamos que nos mudar novamente. Trabalhava feito maluco. Tinha zero de vida social até que um dia uma colega de trabalho me apresentou o Twitter. Fui me entrosando com o pessoal e logo isso se transformou num verdadeiro vício. Tretar no twitter era meu principal passatempo. O pior de mim era nutrido por essa rede social.
Há dois anos atrás, já em Uberlândia, cheguei ao ponto de mentir que tinha almoçado pra minha então companheira não precisar gastar com uma quentinha pra mim. Parece inacreditável dois médicos em uma cidade grande passando por necessidade financeira né? Pois é. Uma tristeza imensurável tomou conta de mim, nada na minha vida dava certo. Eu não entendia como era possível simplesmente TUDO ter saído da maneira contraria ao que eu tinha planejado desde o dia da minha saída de casa na adolescência.
Meu pai já tinha morrido. Procurei a minha mãe, meu irmão caçula e a minha filha. Escrevi e depois liguei para todos pedindo perdão por tudo que eu havia feito de ruim, pela minha arrogância, pela minha distancia. Por qualquer tipo de tristeza que eu tivessa causado a eles.
Arrumei um trabalho em Uberlândia (até então viajava para as cidades próximas pra trabalhar). Meu relacionamento já tinha esfriado por completo, estávamos há quase um ano vivendo na mesma casa sem nenhum contato fisico. Decidi então procurar uma igreja.
Se leu ate aqui calma que o melhor está chegando.
Procurei uma igreja de todas as formas possíveis, mas em todas as vezes as portas se fecharam. Procurei indicação de um desses famosinhos aqui em teologia que me respondeu “sem tempo, amigo, envie um email pra minha equipe, se for importante eles me repassam”.
Procurei uma Assembléia de Deus aqui em Uberlândia. Cheguei a ficar durante o louvor mas o meu coração se fechou na hora da pregação (atenção, não estou falando mal da AD). Eu estava desesperado por algo mas eu não sabia o que era. Meu Deus, como eu estava angustiado.
Ja sem forças mandei uma DM pra um cara que eu julgava ser crente por conta de algumas coisas que ele postava. Não vou marcar ele aqui, tentei contato depois da minha conversão e ele preferiu se manter distante. Ele é de SP, me pediu um tempo pra me indicar uma igreja. Ele indicou uma igreja Batista perto da minha casa. Era de um pastor que tinha feito seminário junto com o pastor da igreja que ele congregava. Cheguei lá e depois do culto disse que tinha ido por conta de um perfil no twitter que tinha me indicado ele ficou sem entender. rsrs
O pastor e sua esposa vieram me visitar depois de alguns dias. Contei pra eles minha vida e eles me confrontaram com a Bíblia, perguntaram se eu tinha certeza da minha salvação. Tinha medo de responder errado, afinal eu queria ficar naquela igreja! (eu achava que era crente hehehe) Eles foram embora e eu fiquei com aquilo na minha cabeça. Como assim se eu tenho certeza que eu sou salvo? Como assim se eu tenho certeza que eu vou pro céu? Me bateu um desespero danado e uma tristeza dolorida de um tanto que eu não consigo descrever.
Aqui mesmo no apto onde eu vivo sozinho hoje eu dobrei os joelhos e comecei a implorar perdão desesperadamente pra Jesus Cristo. Eu não conseguia parar de chorar. Me deu um desespero de lembrar todas as coisas terríveis que eu tinha feito nos meus 38 anos de idade. Era madrugada já, mandei uma mensagem na manhã seguinte quando estava no trabalho. Aquela mensagem foi a segunda expressão que eu lembro do Espírito Santo na minha vida depois de ter pedido perdão a Deus.
Pouco mais de 4 meses atrás eu fui visitar minha mãe depois de quase 7 anos sem vê-la. Contei toda a história pra ela. Meu Deus, como ela chorou! Ela disse que nunca teve dúvida de que isso ia acontecer! Ela me disse que nunca deixou de orar por mim! Choramos juntos!
A igreja que eu congrego é pequenininha. Quem não é casado tem menos de 20 anos de idade. A verdade é que fora dos cultos eu vivo isolado. Uma vez um irmão deixou escapar que não me convidam pra os programas fora da igreja porque eu não sou casado. Não sei quais sao os planos do Senhor na minha vida. Tenho pedido muito a Deus que não deixe o meu coração me enganar. Antes de voltar pro twitter eu pedi muito a direção do Espirito pra não entrar por um caminho errado, foi um processo de semanas antes do primeiro tuíte.
Depois de um post que eu li aqui tive a certeza de que era a hora de voltar pra cá. Se foi esse aqui o caminho usado pelo Senhor pra me levar até aquela igreja, porque não seria para eu levar outras pessoas a também conhecerem o Deus que eu sirvo?
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