Evangelismo

Por que evangelismo digital dá tanto resultado?

Milhões de pessoas buscando Deus na internet

A missão Global Media Outreach [Alcance Global pela Mídia] numa entrevista para o Christian Post, afirmou que o número de pessoas pesquisando sobre o Evangelho na internet cresce cada vez mais. O ministério fundado em 2004 contabilizou mais de 2 bilhões de pessoas apresentadas ao Evangelho e mais de 225 milhões de pessoas responderam positivamente às mensagens de fé por meio de sites e outras plataformas da missão. Além disso, o diretor da missão, Walt Wilson, contou que o número de acessos diários subiu, na média, de 350.000 pessoas para 500.000, por conta das questões surgidas pela pandemia de COVID-19. A GMO também conta com uma plataforma chamada Witness To All [Testemunhe a Todos] que mostra em tempo real a localização dos acessos e ações realizadas nos recursos da GMO.

Os números são significativos, e o fato de aumentarem cada dia mais certamente empolga quem está prestes a se engajar com missões digitais. Mas, antes de colocar a mão na massa, precisamos nos perguntar: por que o evangelismo digital dá resultado?

 

O Efeito Midiatização

 

Acredito que uma das melhores respostas está nos estudos que um grupo de sociólogos ingleses e americanos fizeram sobre o papel da mídia na atualidade. O que aconteceu para que computadores, tablets, smartphones e outros gadgets deixassem de ser apenas acessórios e se tornassem uma necessidade? Eles apontam que isso é fruto de um processo de midiatização, em que a mídia se tornou tão integrada à sociedade a ponto de ambas se influenciarem mutuamente. Para entender melhor como isso acontece, é necessário entender que a palavra “mídia” possui mais de um significado, e que eles estão relacionados com a própria história da mídia e do processo de midiatização.

  • A Mídia agora é uma ferramenta essencial para o ser humano

Desde que a humanidade aprendeu a se comunicar, ela usa e cria meios para que sua mensagem seja transmitida, quando a comunicação face-a-face não é possível – e daí vem o sentido original da palavra “mídia”. Nesse caso, mídia significa todo tipo de ferramenta que possibilita esse tipo de mediação, desde as Tábuas da Lei recebidas por Moisés que comunicavam as leis de Deus ao povo de Israel, passando pelos pergaminhos do Antigo e Novo Testamento, e chegando até os nossos smartphones e aplicativos que permitem ler a Bíblia em versão digital.

  • A Mídia agora é nossa instituição 

Na maior parte da História, mídia significava uma ferramenta utilizada para a transmissão de uma mensagem por alguém. Tomemos como exemplo os jornais. Até o século 19, cada instituição social tinha o seu jornal, defendendo seus pontos de vista, destacando o que era de seu interesse. Não havia muito problema se o jornal de uma igreja e o jornal de um partido tivessem divergências sobre um mesmo assunto, afinal, eles estariam comunicando-se para seu próprio público e a partir de convicções comuns a esse público.

Mas, especialmente depois do uso que as mídias tiveram na comunicação em massa durante a Segunda Guerra (principalmente pelo nazismo e fascismo), surgiu uma demanda para que o uso das mídias fosse independente de outras instituições sociais. É claro que jornais cristãos ou partidários continuariam a existir, mas o que se viu foi a criação e o crescente domínio de uma instituição, que sendo independente e, por isso, tendo suas próprias regras, deveria usar as mídias para se comunicar de maneira isenta e verdadeira a todos os grupos da sociedade. Portanto, essa nova instituição foi chamada de Mídia (atenção ao “m” maiúsculo!). Por exemplo, quando alguém diz que “a mídia manipula as pessoas!” não está se falando das ferramentas (televisão, rádio, internet, etc.), mas da instituição, da Mídia.

  • A Mídia transformou nosso espaço

Com o surgimento e popularização de produtos e ferramentas digitais, especialmente a partir dos anos 1990 – processo que se chama de Revolução Digital – a palavra mídia ganhou um novo significado, que consegue, ao mesmo transcender a ideia de ferramenta ou instituição. Pensemos, por exemplo, nas redes sociais. Uma empresa, como instituição, pode delimitar as “regras de comunidade” de seu produto – no caso, uma rede social. Mas ela não pode fazer isso por outras. Em outras palavras, o Facebook não pode dizer ao Twitter como ele deve se comportar, e vice-versa. A atuação de empresas e pessoas nas redes sociais e na internet como um todo depende de um conjunto de valores compartilhado. Nisso, a internet se mostra como mais que um meio (no sentido de ferramenta), ela progressivamente se tornou um “lugar”, um espaço (ainda que virtual). 

A grande questão da nossa sociedade hoje (e do porquê de evangelismo digital dar resultado) está no fato de que as mídias digitais se tornaram ferramentas essenciais para nossa rotina. Nossa agenda, nossos contatos, anotações importantes, séries e filmes que assistimos, tudo isso é possível no mesmo aparelho e de maneira portátil (se pensarmos nos smartphones como exemplo). Carregar mídia digital para cada momento de nossas vidas trouxe como consequência uma “invasão” do mundo digital sobre o mundo real, a ponto de a fronteira entre estes dois espaços parecer inexistente – se você já pensou que alguém sem um perfil nas redes sociais era “inexistente”, sabe do que estamos falando. E a essa “invasão” do digital se dá o nome de midiatização

Contudo, para entender melhor porque a midiatização permite que o evangelismo digital dê resultado, precisamos ter em mente que a midiatização nos atinge de duas maneiras: externa e interna. Clique aqui para ver a parte 2 desta série e descobrir como isso acontece.

 

Efeitos externos

 

A midiatização nos atinge, em primeiro lugar, em um nível bastante perceptível, que é a realidade material. Para falar apenas do Brasil, segundo uma pesquisa de 2018, estamos entre os três países que mais passam tempo na internet por dia, totalizando em média 9 horas e 14 minutos. Uma outra pesquisa, também de 2018, afirma que 70% dos brasileiros têm acesso à internet, totalizando cerca de 127 milhões de pessoas. Desse número, 97% afirmou que o celular é o principal meio de conexão. Esses números explicam bastante a constatação feita por uma pesquisa em 2019 de que brasileiros estão em 2º lugar no mundo em tempo gasto nas redes sociais, e o tempo médio gasto pelos jovens de 16-24 anos, que é de 175 min. por dia, certamente contribui para a colocação do Brasil nesse ranking.

O uso massivo de redes sociais por pessoas de vários grupos, inclusive cristãos, nos permite pensar que a fé compartilhada online tem um alcance que seria impossível sem a internet e as redes sociais. Uma vez que a mídia se tornou um espaço, é de se imaginar que pessoas de diferentes perspectivas habitam esse “lugar digital”, inclusive cristãos. Isso implica em dizer que cristãos compartilham sobre sua fé nas redes de maneira “natural”, no sentido em que fazem isso do mesmo modo que compartilham acerca de outras coisas de suas vidas. Nesse caso, uma pesquisa de 2014 feita nos EUA mostrou que em cada 5 americanos, 1 compartilha sobre sua fé online. Além disso, 20% dos adultos afirmou compartilhar sobre sua fé online, e 46% deles disse ter visto algum tipo de conteúdo religioso em redes sociais com frequência semanal. Entre os jovens americanos, esse percentual é mais alto: 61% deles disse que vê conteúdo religioso em redes sociais semanalmente.

Uma pesquisa mais refinada, realizada em 2018 nos EUA, revela que apenas 28% dos cristãos americanos procuram compartilhar sobre sua fé intencionalmente nas redes sociais (ou seja, fazem evangelismo digital). Esse tipo de evangelismo ocorre, principalmente, por meio de publicações pessoais (88%), compartilhando publicações de outras pessoas ou páginas (86%), e comentando em publicações e no feed de outras pessoas (85%). Além disso, 58% dos jovens acredita que a internet e redes sociais tornaram o evangelismo mais fácil.

Esses dados indicam que com as mudanças que tornaram as mídias digitais integradas à nossa vida muitos cristãos não veem problema em falar da sua fé nesse espaço – inclusive, pelo alcance que o mundo digital permite, entendem que o evangelismo digital é uma necessidade. Entretanto, isso ainda não é suficiente para determinar por que evangelismo digital é efetivo. 

 

Efeitos internos

 

Além da alteração da realidade material, que percebemos a olho nu, a midiatização também tem impacto naquilo que é imaterial, que é simbólico. Como as mídias digitais afetam nossas relações com as coisas, com as pessoas e com Deus? Para ilustrar como nossa mentalidade foi alterada, podemos mencionar a ideia de presença digital. Com a invasão do mundo digital sobre o mundo real, um dos impactos que podem ser percebidos é a ideia que se algo não é notado no mundo digital, não existe no mundo real. Já mencionamos aqui uma situação corriqueira: a sensação de que uma pessoa sem perfil em redes sociais é “inexistente”. O mesmo acontece com empresas, igrejas e outras organizações. Sem presença digital relevante, é como se não existissem.

Para que nossa presença digital como cristãos fazendo evangelismo intencional nas redes seja relevante, também é necessário que nossa atenção igualmente esteja direcionada à nossa linguagem. Muitas pessoas que compartilham sobre a fé na internet tendem a fazer publicações direcionadas a um público que já é, em sua maioria, cristã. Por outro lado, muitos não-cristãos se sentem incomodados quando caem em “armadilhas evangelísticas”: publicações que trazem mensagens genéricas sobre paz, amor, ou qualquer outra coisa, e de repente o tom muda e descobrem que o objetivo era atraí-las com um assunto qualquer para depois apresentá-las a Jesus. E mesmo para quem tem o cuidado de evitar esse tipo de atitude, existem outras dificuldades que se levantam. Como fazer um anúncio falando do Evangelho sem parecer com o anúncio de um produto qualquer? Como anunciar uma publicação sobre esperança em Cristo sem parecer com uma propaganda de textos de auto-ajuda? Esse tipo de dificuldade fez com que 58% jovens cristãos americanos dissessem que a internet e as mídias sociais trouxeram maior preocupação e cuidado quando se compartilha a fé online. O grande desafio do evangelismo nas redes é usar o melhor do marketing digital sem alterar a percepção correta do Evangelho.

Para superar esse desafio, precisamos estar conscientes que “dar resultado” não é meramente aumentar o número de acessos às nossas plataformas ou curtidas em uma publicação. O resultado que se busca no evangelismo digital é pessoas entregando suas vidas a Jesus, reconhecendo-o como Senhor e Salvador. Nesse sentido, a Cru oferece três passos que são essenciais para que alcancemos resultado no evangelismo digital:

  • Apresentando o Evangelho

A Cru tem sites e aplicativos que auxiliam pessoas a encontrar Jesus. Sites como o Sua Escolha e Estou Enfrentando são ferramentas que, juntas, estão disponíveis em mais de 40 idiomas. Contudo, apresentar o Evangelho é só o início da jornada.

  • Crescimento na Fé

Existem sites e aplicativos com conteúdo específico para ajudar novos crentes a crescer na Fé. A Cru, por exemplo, tem o aplicativo e site Primeiros Passos, com uma jornada temática visando o discipulado. Além disso, os sites Sua Escolha e Estou Enfrentando contam com missionários disponível para um acompanhamento direcionado àqueles que mandam perguntas nos sites.

  • Levando à comunhão

A Cru procura estabelecer parcerias com igrejas para que novos crentes sejam direcionados à comunidades próximas de onde moram. Os missionários também ajudam nessa mediação entre as pessoas e as igrejas.

O que é interessante nesses três passos é a jornada que leva pessoas que foram apresentadas ao Evangelho na internet começarem a participar de uma igreja na vida real. Por conta da midiatização, precisamos nos lembrar constantemente que o mundo digital não é o espaço definidor das nossas vidas. A vida cristã é vivida num mundo de carne e osso. Jesus veio para redimir pecadores reais, e não apenas alterar o status de alguém para “religioso” nas redes sociais. O evangelismo digital dá resultado quando somos conscientes que a missão da igreja no mundo digital é ter uma comunicação fiel do Evangelho que use o digital como um meio para a vida cristã no mundo real.

Para saber mais sobre midiatização:

Knut Lundby (org.): Mediatization of Communication. De Gruyter, 2014.

Stig Hjarvard: A Midiatização da Cultura e da Sociedade. Unisinos, 2014.

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